“Doutor, estou com tontura! Então estou com labirintite?”.
A resposta é: Não! Mas como assim? A labirintite não é a doença que causa tontura?
O termo labirintite é usado por profissionais da saúde há vários anos de maneira geral para designar as doenças do labirinto que causam desequilíbrio, vertigem, náuseas e zumbido.
Um fato: existe uma doença de nome labirintite, mas não é essa que andam falando por aí! A verdadeira labirintite é uma doença rara e grave!
Outro fato importante: nem toda tontura vem do labirinto!
Os avanços da ciência e da nossa especialidade promoveram uma melhor percepção, diagnóstico e tratamento para as diversas doenças da tontura e, em especial, as doenças do labirinto (labirintopatias). Nos últimos anos várias dessas doenças foram melhor esclarecidas e podem ser melhor abordadas pelos otorrinos.
Atualmente evitamos o uso do termo “labirintite”, uma vez que para nossa especialidade é fundamental saber qual doença está levando alguém a ter crises de tontura e/ou vertigem.
Vamos juntos conhecer mais sobre o assunto?! Por isso começaremos pelo órgão do equilíbrio: o labirinto.
É uma região da orelha interna responsável pelo equilíbrio. Nele encontramos alguns prolongamentos denominados “Canais Semicirculares” e possui dilatações em suas estruturas. Dentro dessas estruturas podemos encontrar um líquido viscoso de nome “endolinfa” e em algumas áreas temos cristais denominados “otólitos”.
O nosso labirinto está ligado ao órgão da audição, a cóclea, que se assemelha a um caracol. E ambos se encontram no fundo de cada ouvido.
Os labirintos são responsáveis por informar ao cérebro e cerebelo do nosso deslocamento ao andar, quando estamos em movimentação no carro ou em um elevador e sinaliza sobre movimentações da nossa cabeça. Com base nas informações recebidas pelos labirintos, o nosso cérebro codifica o nosso equilíbrio junto com outros estímulos vindo dos olhos e da nossa propriocepção (tato).
Estes pequenos órgãos são sensíveis e podem responder caso alguma questão metabólica esteja acontecendo no corpo como: grande ingestão de gordura, sal, álcool, estimulantes (café, chocolate e energéticos), aumento de pressão arterial, baixa oxigenação ou desidratação.
São um conjunto de doenças que ocorrem dentro dos órgãos do equilíbrio e podem levar a vertigem (sensação do mundo rodando), náuseas, vômitos, zumbido ou alterações auditivas. A intensidade, duração e sequencia dos sintomas pode variar de acordo com cada doença.
Em sua maioria não são doenças graves e cada uma delas vai necessitar de um tratamento específico, que pode ser tanto com remédios, cirurgias ou com terapias do equilíbrio.
Abaixo uma lista com as principais labirintopatias:
– Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB);
– Síndrome de Meniére;
– Fístula perilinfática;
– Migrânea Vestibular;
– Deiscência do Canal Semicircular superior
– Neuronite vestibular;
– Tumores dos nervos vestíbulococleares;
– Traumatismos do osso temporal;
– Vestibulotoxicidade.
A vestibulopatia mais comum é a VPPB. Na qual ocorre o deslocamento dos cristais que existem dentro do labirinto e causam crises de vertigem de curta duração a movimentação da cabeça. O tratamento dessa doença é simples, não requer medicações e se chega a cura completa.
A real doença de nome labirintite se dá em consequência de uma infecção grave no ouvido ou cérebro na qual a secreção com bactérias invade o ouvido interno. Promovendo contaminação e inflamação do líquido e das delicadas membranas do labirinto.
É uma doença grave e difícil de acontecer, que requer internação em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) e uso de antibióticos fortes restritos a uso hospitalar.
Além das vestibulopatias, existem doenças que ocorrem no nosso computador central, o cérebro! Nessas doenças podem ocorrer desequilíbrio, dores de cabeça, sensação de desmaio, vertigem e vômitos. Elas são responsáveis por cerca de 10% a 15% dos casos de tontura e vertigem.
É fundamental a avaliação do otorrinolaringologista para definir qual a doença da tontura pode estar lhe afetando.
Agora você já sabe: nem toda tontura é labirintite!
Grande abraço!
Guilherme Castro Alves
Otorrinolaringologista
CRM MA 8789 | RQE 4738